SEM DIREITO DE SOFRER


Dworkin e Monica questionam um dogma da sociedade contemporânea: a obrigação de ser feliz. Não há espaço para um dia de mau humor ou um momento de crise. O padrão é a felicidade incondicional. "As pessoas não têm mais o direito de sofrer. Então, sofrese em dobro", adverte o escritor francês Pascal Bruckner no livro A EUFORIA PERPÉTUA (ED. BER - TRAND BRASIL). De acordo com o autor, a felicidade deixou de ser um direito para se tornar um dever a partir do século 18, inversão que se consolidou no século 20, depois de 1968, quando o prazer passou a ser o principal valor da sociedade ocidental. Daí houve uma distorção no conceito de felicidade, hoje ligado a uma sucessão de episódios efêmeros de bemestar e emoções de curto prazo.Quem não corresponde à exigência de ser feliz é tido como doente. Para cada estado de espírito, confundido com sintoma, há uma solução fácil: a tristeza é aliviada com antidepressivos; a ansiedade, com tranqüilizantes. Por isso, entre 2001 e 2005 ocorreu uma explosão no consumo de psicotrópicos no Brasil, sobretudo entre mulheres, conforme pesquisa do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas realizada em 108 cidades. "A mulher tem mais probabilidade de sair de um consultório com uma receita de tranqüilizante ou antidepressivo que o homem", avi sa a psiqui atra Florence Kerr Corrêa, da Faculdade de Me dicina da Unesp em Botucatu (SP). As principais usuárias têm entre 35 e 45 anos, estão insatisfeitas com o casamento, com o trabalho, com o corpo ou vivem sob tensão, diz a médica. A pedagoga Denise, 45 anos, casada, dois filhos, pode estar nessa lista: "Tomo Valium há dez anos. Sou preocupada: fico programando o dia seguinte e não consigo dormir. O remédio me ajuda a desligar, relaxar. Na escola onde trabalho, quase todas as mulheres usam algum remédio. Sei que fiquei de pendente, mas adoro tomar o tranqüilizante e desmaiar".